segunda-feira, abril 30

Valores


Defender a sua terra, as suas crenças, a sua história, a sua cultura, são obrigações que todos nós temos, mas que efetivamente não cumprimos. Constatar e reclamar da descaracterização cultural e social pela qual passamos é muito fácil, mas o que você já fez pra tentar reverter isso?

O nosso momento é um reflexo dos rumos que tomamos e que estamos tomando. É verdade que estamos avançando economicamente, inclusive que há uma melhor distribuição da renda gerada por esse crescimento, porém não dá prosseguir com esse crescimento se nossos valores culturais que sempre nos acompanharam continuarem a ser perdidos.

Um exemplo muito claro disso é o da música. Sempre existiu música ruim (é complicado taxar algo como ruim ou bom, mas existem valores estéticos, éticos e morais, sem hipocrisia é claro, que norteiam isto e que não podem ser esquecidos), o problema é que elas surgiam e iam embora, pois é fato que o que é bom é para sempre, e o que não é se deteriora. Pois é aí que está a chave da coisa, descobriram o caminho da imortalidade, transformaram o processo de criação livre e artístico em uma mera linha de produção que enche o mercado de produtos que possuem apenas valor comercial e que em breve serão substituídos por algo similar. A massificação disso com o uso irresponsável e excessivo da grande mídia ofusca as coisas boas que continuam sendo feitas.

O quadro da música se reflete em todo o resto. A perda do referencial é sem dúvida alguma, um dos maiores problemas que um povo no sentido mais amplo da palavra pode enfrentar. Somos uma sociedade jovem e uma democracia quase bebê, ainda não aprendemos que esse sistema é uma via de mão dupla e que temos tantos deveres quanto direitos e igual responsabilidade em todos esses aspectos

Com isso retornamos a pergunta de inicio, o que você, o que eu, o que nós fizemos ou estamos fazendo para reverter tudo isso? Sinceramente não vejo mudanças em curto prazo, o caminho para modificações efetivas começa na política (pois este é o campo que rege todas as transformações), na mudança de pensamento, na responsabilização de cada um com todo o processo, não se pode estar alheio a isso.

Em alguns meses teremos mais uma vez a oportunidade de fazer mudanças, as eleições estão ai e esse será o momento de escolher os novos rumos (sejam eles de continuidade e aprimoramento de coisas boas que estão acontecendo ou de ruptura efetiva), essa será uma nova oportunidade de fazer a sua parte.

Iago Sarinho


Jackson do Pandeiro - Um a Um




Chico Cesar, Elba Ramalho e Quinteto da Paraíba - Por causa de um ingresso do festival matou roqueira de 15 anos



Adeildo Vieira - Olhos de Paisagem








Santos Raios

Existem algumas coisas na vida que quase todo mundo gosta. Na culinária italiana a pizza, no amor o sexo e no futebol o Santos.

Motivos, explicações e versões, para essas quase unanimidades existem aos montes. O fato é que, raramente é possível afirmar categoricamente se uma delas está ou não correta.

No caso do futebol, a justificativa mais comum tem nomes, Gilmar, Pepe, Pelé, Coutinho, Mengálvio, Dorval, Edu, Giovanni e mais recentemente, Diego, Robinho, Ganso e Neymar. Todos representantes genuínos do futebol praticado na cidade portuária. Esses e outros fizeram e fazem deste, não o de maior torcida, mas sem dúvida o time mais querido daqueles que são amantes do verdadeiro futebol.

Foi pelo porto de Santos, que a primeira bola de futebol, trazida por Charles Miller chegou ao Brasil. Como consequência desse primeiro contato, 20 anos depois foi fundado em 14 de abril de 1912, data que, por óbvia coincidência, foi o mesmo dia em que o  Titanic, anunciado como o maior e mais resistente navio da época, afundou provocando uma das maiores tragédias, ou pelo menos uma das mais lembradas, filmadas e premiadas da história. Na contramão, o Santos, criado sem tanto alarde, iniciava a sua história de glórias, gols e arte.  

Por uma conjunção astral, pelos desígnios dos deuses do futebol, ou por qualquer outra coisa, o raio acaba sempre caindo na vila (é claro que de lá ainda não surgiu alguém do nível de Pelé, convenhamos, isso é quase impossível, mas não será Neymar um bom herdeiro dessa história?).

De lá costumeiramente, surgem semi e deuses imortalizados por nossas memorias, corações e tentativas falhas, afinal como imitar em nossas limitações àqueles que alcançam a imortalidade?

Já que não é fácil a tarefa de chegar ao Olimpo, vamos ficar com a de relembrar da melhor maneira possível essa trajetória brilhante que completou ontem junto com o naufrágio anteriormente citado, cem anos.

O documentário “Santos, 100 anos de Futebol Arte” dirigido por Lina Chamie e exibido na ESPN Brasil (que foi um dos motivadores para esse texto), que recomendo, assim como o filme “Pelé Eterno”, do diretor Anibal Massaini Neto, realizaram bem essa missão.

Espero ter dado a minha contribuição ao tema, longa vida e sucesso ao Santos Futebol Clube, que mais raios caiam por lá, quem sabe um deles dá uma desviada e vem parar por aqui? Seria uma maravilha no contorno.

Vamos torcer!


 Iago Sarinho

 
Trailer "Santos, 100 anos de Futebol Arte"


Trecho do Filme "Pelé Eterno"

 

domingo, abril 29

Os Neomalandros

 Hoje, nem malandro se faz como antigamente?

 O fato é que a malandragem era quase do bem. Eram namoradores, boêmios, sambistas de caixa de fósforos, da Lapa ou do Ponto de Cem Réis, mas eles não causavam grandes problemas. Na verdade faziam parte da lógica da cidade, estavam envoltos por um mito, eram figuras românticas, amadas. E é claro que onde existe amor também existe ódio.

 Os atuais têm todas as más características dos antigos, são mais sofisticados é verdade, não usam mais paletó branco e são de difícil detecção, pois são ainda mais “malandros”.
 Não possuem mais como meta, a cerveja e o cigarro do dia ou aquela morena de cair o queixo, são agora gananciosos,  não ligam para a música nem tampouco para a poesia. Utilizam de uma única “arte”, a de fingir e ocultar sua verdadeira face. Eles e elas se espalham, ocupam os mais diversos lugares e meios, estão a minha e a sua volta.

 Esses neomalandros são originalmente hipócritas e aí é que está a grande diferença. A malandragem antiga não era mascarada, estava e era caracterizada, por isso era tão encantadora, bebiam, fumavam, cantavam, se sabia quem eram efetivamente e dessa maneira eram queridos ou não.

  Na realidade, o adjetivo malandro, que servia para caracterizar Bezerra da Silva, Livardo Alves, Jackson do Pandeiro e que ainda serve para alguns remanescentes como é o caso de Parrá (um dos poucos que ainda carrega a bandeira da boa malandragem), foi modificado, descaracterizado, foi subtraído em seu valor lúdico e romântico.

 Nos dias atuais, esta palavra adquiriu uma conotação bem diferente, que não é apaixonante, digna de destaques positivos ou de boas histórias. Os novos donos desse adjetivo, sinceramente, é melhor não citar.
 Iago Sarinho

Chico Buarque dá sua versão do tema...

 

Vital Farias canta uma história de malandro...

  

  Bezerra da Silva, o rei da boa malandragem?